segunda-feira, 2 de maio de 2016

CLAUDIO WILLER | As aventuras e os subterrâneos de Jack Kerouac


Em 1984, logo após publicar Uivo, Kaddish e outros poemas de Allen Ginsberg, fiz o prefácio da edição brasileira de Os Subterrâneos de Kerouac (editora Brasiliense, tradução de Paulo Henriques de Britto). A intenção era colocar alguns pingos nos ii, diante dos evidentes equívocos na recepção das traduções de autores beat no Brasil. Mas o texto vai além, e dá um perfil de Kerouac. Continua valendo. Por isso, digito-o e o torno disponível através de Agulha Revista de Cultura. O que vem a seguir é, quase tudo, reprodução integral. As alterações mais importantes se referem ao verdadeiro lugar de ação de Os Subterrâneos (em Nova York, e não em San Francisco, onde Kerouac havia situado esta narrativaà clef), e a estudos biográficos sobre ele, posteriores à escrita deste prefácio (mas que corroboram minhas hipóteses e interpretações).

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Para muitos comentaristas, Os Subterrâneos é a narrativa mais tipicamente beat de Kerouac. Seria a melhor descrição de como foi a vida daqueles marginais, poetas e poetas-marginais do final da década de 1940 e início dos anos 50, em Nova York e, logo em seguida, em San Francisco e pelo mundo afora.
Era uma vida subterrânea mesmo, pois ainda não havia acontecido o “estouro” da beat, sua transformação em fenômeno literário e comportamental, abrindo caminho para a contracultura e as rebeliões juvenis da década de 1960, e convertendo seus escritores em personagens públicos. Isso só ocorreria mais tarde, depois da publicação de Howl and other poems (Uivo e outros poemas) de Ginsberg (em 1956) e de On the Road (Pé na Estrada) de Kerouac (em 1957). A ação antecede, portanto, em alguns anos a entronização e coroação de Kerouac como “rei dos beats”, honraria que ele nunca quis, conferindo-lhe uma fama que não havia pedido, e um tipo de notoriedade que só contribuiu para sufocar seu talento e destruí-lo psicologicamente.
Kerouac foi realmente um beat? Ele mesmo manifestou dúvidas a respeito, em seu período de reclusão que durou de sua crise em 1961 até sua morte em 1969. Certamente, tinha divergências de fundo, no plano da política e da moral, com Ginsberg e outros de seus companheiros. Além disso, sua literatura “de estrada” – On the Road, Os Subterrâneos, Tristessa, The Dharma Bums, Big Sur, Desolation Angels, Lonesome Traveller – corresponde a um dos aspectos de sua obra, a uma das facetas de seu enorme talento como narrador e renovador da prosódia. Na mesma medida, sua atuação como participante da geração beat equivale a uma fase da sua vida e a um dos aspectos de sua complexa, múltipla e contraditória personalidade. Passou pela beat, deixando sua marca, como etapa da aventura que foi sua vida, um dos momentos de sua trajetória pessoal, talvez um dos passos de sua via crucis.
Kerouac foi, na verdade, um romântico extremado e radical; e sua vida, um percurso em busca do impossível: a concretização de seus ideais, de uma ética da pureza, a ressurreição de seus personagens queridos, a recuperação do tempo perdido, da infância idílica, da inocência original do ser humano, da vitória sobre a morte. Nesse percurso, viajou por seu país e por outros lugares do mundo, viveu e atuou intensamente, para, ao fim, fechar-se em copas, recolher-se até morrer, isolado e incompreendido, aos 47 anos de idade.
A publicação de On the Road no Brasil suscitou a previsível polêmica sobre seu valor literário e sua importância. Chegou-se a falar em modismo e volta aos anos 50. E até mesmo em “inútil exumação”, em um de nossos suplementos literários. Nada a estranhar: a polêmica o acompanhou por sua vida, e continuou depois dela. Mas é importante assinalar que o reconhecimento da contribuição de Kerouac e a atenção dada à sua obra só têm crescido, desde sua morte. Hoje, nos Estados Unidos e em outros lugares, Kerouc é mais lido e melhor lido. Contribuiu para isso a publicação póstuma de sua mais extensa e inspirada obra, Visions of Cody, em 1972. E a maior atenção à sua obra evocativa, em que fala da infância e juventude: Doctor Sax, Maggie Cassidy e Vanity of Duluoz.
Tais livros não nos revelam “outro” Kerouac. Apenas ampliam a compreensão de sua obra e sua personalidade. O destaque dado a Kerouac como “beatnik” talvez tenha algo de um modismo ultrapassado; mas não o interesse pelo Kerouac escritor. Este continua e permanecerá. Tanto assim, que a bibliografia a seu respeito, os estudos dedicados à sua vida e obra, tem aumentado do começo dos anos de 1970 até hoje. A biografia pioneira por Ann Charters é de 1973; do mesmo ano, Kerouac’s Town de Barry Gifford e Visions of Kerouac de Charles E. Jarvis. Há outro Visions of Kerouac, por Martins Duberman, de 1977. Allen Ginsberg escreveu sobre ele Visions of the Great Rememberer, de 1974, e em inúmeras outras ocasiões. De 1976 é The Naked Angels de John Tytell, sobre o trio constituído por Kerouac, Ginsberg e Burroughs. De 1978, o interessantíssimo Jack’s Book, de Barry Gifford e Lawrence Lee, um livro-colagem de depoimentos a seu respeito.
E há muito mais. Entre outros títulos mais recentes, Memory Babe de Gerard Nicosia, de 1883, para William Burroughs (e para mim) a mais completa das biografias de Kerouac. O volumoso Subterranean Kerouac, de Ellis Amburn, é de 1998, e faz incidir o foco sobre a vida sexual de Jack, sobre sua homossexualidade, em uma interpretação logo contestada pela escritora Joyce Johnson, por sua vez ex-namorada de Kerouac. Há ainda o depoimento de Carolyn Cassady, Off the Road, e sua participação em biografias de Allen Ginsberg, como a de Barry Miles, e de William Burroughs, como a de Ted Morgan. Já houve filmes. Vem aí mais um, por ninguém menos que Coppola. Etc.
Foi o biografável por excelência. Personagem de si mesmo. Atrai-me, dessas biografias, Visions of Kerouac de Charles E. Jarvis. É uma obra oportunista. Aproveitando a estada de Jack em Lowell, sua cidade natal, pouco antes de morrer na Flórida com um buraco no estômago de tanto beber, bem como o fato de serem conterrâneose terem sido colegas, Jarvis se pôs a transcrever os delírios do alcoólatra terminal. Registrou uma voz crepuscular, literalmente vinda das sombras, pois Kerouac, metáfora viva, já não suportava a luz e preferia ficar na penumbra de uma sala com venezianas cerradas. O segmento final da hipérbole traçada por sua vida é mostrado com lente de aumento, na plenitude do que contém de trágico e de patético. Jarvis e Kerouac caminhando à noite por Lowell, reencontrando lugares da infância e juventude: duas assombrações percorrendo uma cidade fantasma.
Tudo isso também favoreceu a recepção de Kerouac, como escritor e não apenas como protagonista de um enredo que tem algo de folclórico e circunstancial. Contribuiu para o exame do valor e importância de Os Subterrâneos dentro do conjunto de sua obra. Sabe-se que seu caso amoroso com “Mardou Fox”, que se transformou em triângulo envolvendo Gregory Corso (Yuri Gligoric no livro), tendo ainda como participantes da história Allen Ginsberg (Adam Moorad) e Lawrence Ferlinghetti (Larry O’Hara), ocorreu no ápice do período mais agitado e criativo de sua vida, de 1951 a 1955, quando, além de viajar sem parar, escreveu onze de seus livros. Segundo a lenda criada ao redor da rapidez de Kerouac para escrever, este teria sido o mais espontâneo de seus textos: logo após terminar o caso com Mardou, mandou-se para Long Island, onde morava “Memère”, sua idolatrada mãe, trancou-se no sótão da casa, e escreveu suas 111 páginas “em três noites de lua cheia, em outubro de 1953”.
Há exagero nessa história da velocidade de Kerouac para escrever. Sabe-se que On the Road não foi feito apenas em três semanas, mas sim em duas etapas, com boa parte refeita depois, em uma sucessão de copidesques para atender editores. Chegou-se a sugerir que o verdadeiro On the Road, em sua integridade, seria Visions of Cody. Mas, de qualquer modo, Os Subterrâneos está em primeiro lugar na escala da rapidez. E, por isso, como obra especialmente representativa de sua “prosódia bop”, do estilo criado por ele. São jorros de linguagem, blocos compactos de texto misturando relato, evocação e reflexão, indo e vindo no tempo, dentro dos mesmos longos parágrafos. Valendo o paralelo com o jazz, este é um livro com uma batida acelerada e muito “swing”. E um exemplo bem-sucedido do que buscava: levar para o papel o fluxo da consciência, a sucessão de imagens e idéias. E, principalmente, fruir o som e o ritmo das palavras, os valores fonéticos e prosódicos da língua falada. Procurou criar uma literatura orgânica e animada, um texto sobre a vida que, por sua vez, fosse vivo e pulsante.
Ginsberg tinha razão ao falar em “ioga da palavra” ao referir-se a essa fruição das palavras como ritmo e sonoridade, desligadas de seu sentido imediato. E também estava correto ao mostrar como Kerouac trazia, integralmente, sua “pessoa” para o texto. Não só a mente pensante, a consciência reflexiva, mas a pessoa como totalidade: suas paixões, emoções, nervos e carne. E Kerouac tinha plena consciência disso. No começo de Os Subterrâneos, fala de sua “egomania” como dificuldade para narrar (em uma narrativa escrita em três noites...), assim ironizando a idéia de uma literatura “impessoal”, derivada de Eliot e dominante entre os formalistas da época. Sua contribuição foi decisiva para recuperar o sujeito, a fala do narrador, a primeira pessoa na criação literárias, com reflexos não só na ficção moderna, mas no jornalismo participante praticado a partir dos anos 60, com Tom Wolfe e outros.
Por restaurar o sujeito em sua integridade, Os Subterrâneos é um livro que tematiza o amor e no qual está bem presente o erotismo. É coerente a inclusão de uma homenagem a Wilhelm Reich e sua teoria do orgasmo, na época, uma proposta avançada. Junto com Tristessa (escrito em 1955/56) e Visions of Cody (de 1951), é um dos seus livros mais ousados no tema. Tristessa é a história de um caso amoroso com uma moça mexicana, traficante, “contato” de seu amigo Bill Garver em Cidade do México. Visions of Cody tem como núcleo narrativo a famosa relação a três envolvendo Jack, Neal Cassady e sua mulher Carolyn. Em Os Subterrâneos, o caso é com Mardou Fox, negra, pirada e drogada, ex-internada, sob tratamento, desorganizada, caótica. Nesses dois livros – Os Subterrâneos e Tristessa – entra fundo no tema das drogas. Seus personagens tomam benzedrina e anfetamina, puxam fumo e, como pano de fundo, comparece um drogado ilustre, William Burroughs (Frank Carmody), além de ser evocada sua mulher, Joan (Jane), viciada em benzedrina, morta acidentalmente (ou não?) pelo marido com um tiro na testa, no México, em 1951. Drogas atraíam Kerouac mais como tema que como material de consumo. Exceto ocasionais fumadas (como as deste livro e do final de On the Road) e a benzedrina como estimulante, preferia mesmo a bebida, principalmente vinho licoroso, que acabou por destruí-lo, transformado em alcoólatra irrecuperável, e provocando a hemorragia no estômago que o mataria em 1969, na Flórida, aos 49 anos.
Kerouac foi uma personalidade dividida, e isso se reflete em sua relação com as mulheres. Só conseguia ter dois tipos de relação. Um deles, breve, intenso, sensual, com figuras atípicas, excêntricas, marginalizadas, discriminadas, como Mardou, Tristessa e a mexicana Terry de On the Road. Outra, com alguém que fosse um prolongamento de sua mãe e de sua família, como Stella Sampas, que foi sua namorada de juventude em Lowell, com quem se casou em 1962 e viveu até o fim, ambos cuidando de “memère” Gabrielle. Seus dois casamentos anteriores não duraram, juntos, mais que um ano; o primeiro, de 1945, com Edie Parker, dois meses.
A mesma divisão aparece em outros aspectos e momentos de sua vida. Sempre escolhia os extremos. De duas uma: ou a agitação das festas e reuniões beat de Nova York e San Francisco, as viagens frenéticas pelo país em companhia do loquaz e acelerado Neal Cassady; ou então, a reclusão e o silêncio, como no final de Dharma Bums(1957), relato de seu retiro como eremita por dois meses em Desolation Peak (Pico da Desolação – quem trabalhou lá como guarda florestal foi Gary Snider). O tema é retomado em Desolation Angels, escrito antes de Dharma Bums, porém relatando fatos posteriores, na sequência da mesma peregrinação budista. Foi mesmo um solitário, e não por acaso um de seus livros se chama Lonesome Traveller, viajante solitário. A fama, depois de 1957, com o sucesso de On the Road, o perturbava tremendamente. Não se sentia ajustado à imagem de arauto beat, ao que as pessoas esperavam dele, a começar pelo fato de não ser mais o rapaz retratado em On the Road, cuja ação transcorrera dez anos antes (o livro bateu um recorde de fila de espera em editoras – sete anos, do término até sair). A vida como marginal inédito se adequava mais a ele: na condição de escritor famoso, era obrigado a conviver com uma sociedade com a qual pouco tinha a ver.
Dois níveis de incompreensão o incomodavam e confundiam. Um, a mitificação do escritor-viajante, esquecendo que, ao mesmo tempo, também escrevera sua obra evocativa (o “ciclo de Lowell”), além de seus poemas (Mexico City Blues e San Francisco Blues), além de um texto budista, The Scripture of the Golden Eternity, e doBook of Dreams, transcrição de sonhos. Outro, da crítica: como On the Road teve uma acolhida triunfal e se tornou um best-seller, resenhistas e críticos sentiram-se na obrigação de abordar suas obras seguintes com especial rigor, apontando defeitos, mostrando o quanto eram inferiores, mais fracas que a primeira. Esteve entre dois fogos: aquele da criação de um mito Kerouac, por alguns, e a tentativa de destruição desse mito, por outros.
Seu último livro da fase “de estrada”, Big Sur, é o relato dessa crise. Mais uma vez, tenta isolar-se, na casa de praia de Lawrence Ferlinghetti. Ao chegar lá, a solidão o incomoda; tem um ataque de delirium tremens, alucinações nas quais combate demônios, e o livro termina com a visão de uma cruz aparecendo no oceano, sua reconciliação com o catolicismo. Mas a crise já vinha de antes. Sua ida a Tanger e à Europa em 1957, relatada em Desolation Angels, só lhe provocou tédio e sensações de vazio. Em The Dharma Bums, tentou mudar o estilo, passando a usar frases curtas, com mais ênfase no relato dos acontecimentos, e menos no seu fluxo de consciência. Por isso, é o livro preferido por muitos: trata-se de sua obra mais “fácil”, linear e discursiva. Suas viagens depois de 1956 foram uma busca cada vez mais errática, cujos objetivos iam se distanciando.
Seu biógrafo Charles E. Jarvis achou que Os Subterrâneos constar como seu relato mais fiel e confessional, e ao mesmo tempo o mais beat, não passava de “uma monumental ironia”. A fidelidade é relativa, como aliás em toda a criação literária. Há um depoimento de Gregory Corso (para Jarvis), segundo o qual Mardou Fox não tivera tanta importância assim: havia sido mais uma transa, uma eventual companheira de cama de Kerouac. O testemunho ajuda a entender o processo criativo de Kerouac. Mardou foi protagonista de Os Subterrâneos, não por sua importância como caso amoroso, mas como símbolo.
Dostoievskiano, Kerouac procurou a santidade no submundo. Seu uso recorrente das expressões “santo”, “santidade” e “celestial” não é apenas um recurso literário, mas a expressão de sua obsessão. Proustiano, queria recuperar o passado, transformar suas memórias em algo mais concreto, através de textos que foram uma invocação ou um exorcismo. Leitor de Céline, sabia ser preciso mergulhar fundo em seu tempo, para descrevê-lo com traços precisos. Fascinado por Whitman e Rimbaud, queria a amplidão das viagens e aventuras. Herdeiro da tradição de Jack London e Melville, sentia a atração pelo infinito mar. Por isso, foi trabalhar na Marinha Mercante em 1943, e escreveu relatos melvillianos de viagem. Assim como os personagens de Melville, ou de Kafka, sentia-se oprimido pela burocracia e pela vida regrada: não aguentou o Exército (foi dispensado como paranóico) nem a disciplina da universidade (foi expulso de Columbia). Queria outra realidade: mas, ao contrário de seus antecessores do século XIX, não a encontrou nas viagens. Não havia mais paraísos idílicos a serem descobertos. Buscou o Outro, mas sempre acabava se defrontando com a máscara imutável do Mesmo.
Jack Kerouac reviveu um dos mitos fundadores da literatura: a volta às origens, a reconquista do tempo primordial. Para entender melhor sua busca, bem como a constelação simbólica sobre a qual repousa sua obra, é preciso voltar à sua infância em uma comunidade de “canuks”, franco-canadenses católicos radicados em Massachusets. Este era seu verdadeiro mundo, que idealizava e procurava recuperar. Tanto é, que, dentre seus romances, seu preferido era Visions of Gérard, onde foi mais longe na evocação e busca do que perdera. Assim como, para muitos comentaristas, sua obra mais interessante é Doctor Sax, igualmente evocativo, mas alegórico, desdobramento de um sonho relatado em On the Road, o combate de um mago, inspirado em William Burroughs, contra a serpente mítica do Mal.
A vida de Jack Kerouac transcorreu sob o signo da perda e da solidão. Perda de seu irmão Gérard, morto aos quatro anos de idade, e, em sua obra, símbolo da inocência, paradoxalmente projetada em Neal Cassady, delinqüente e devasso, mas que, para Jack, era um santo. Perda de sua língua natal, o dialeto franco-canadense (só foi falar inglês na escola). Na década de 1930, seu pai Leo perdeu sua gráfica e suas posses me uma inundação. Seu melhor amigo de infância, George Sampas (irmão de sua mulher Stella) morreu na guerra. É como se a inundação do rio Merrimack em 1936 fosse, simbolicamente, uma correnteza levando embora seus entes queridos, sua língua natal, seus amigos e seus laços comunitários. Sua obra foi uma tentativa de nadar contra essa correnteza, contra o Tempo. Uma viagem impossível, que o consumiu e esgotou. A correnteza acabou jogando-o na margem. A crônica de seus últimos anos é patética: sempre bêbado, dialogando com fantasmas, repetindo variações do mesmo monólogo.
Jean-Louis Lébris de Kerouac, Jack para o mundo, não foi o único derrotado na vida e vitorioso na criação literária. Essas contradições, impasses e paradoxos não são apenas um drama pessoal. Sua obra, por mais particular que fosse, também é universal, espelho de todos nós. Em cada um de seus leitores está, talvez adormecido, o beat aventureiro e o adulto que deseja recuperar a infância. A luta e derrota contra o Tempo, a contradição entre o sujeito e seu mundo: aí estão temas que não são exclusivos de Kerouac, porém o fermento da criação literária, aspectos dessa coisa contraditória que é a própria condição humana.



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Aline Daka é artista visual, ilustradora e quadrinista. Formada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS com passagem pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em Portugal. É ilustradora da (n.t.) Revista Literária em Tradução, curadora do Suplemento de Arte e atualmente publica em parceria com Vicente Pietroforte a HQ Eunice mora no penúltimo andar na página web da Pararraios Comics.

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Organização a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista convidado | Aline Daka
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

S1 | PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
S2 | VIAGENS DO SURREALISMO
S3 | O RIO DA MEMÓRIA

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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